sexta-feira, 8 de maio de 2020

Língua Portuguesa - Ensino Fundamental II (7ºA, 7ºB E 7ºC)

Leia os textos a seguir e responda.

Quadros em movimento


 
A mala voltara quase vazia como fora; sua mente, no entanto, estava repleta. Visitara museus, bibliotecas e livrarias. O pequeno quadro, presente de um amigo, foi acomodado entre os inúmeros que pendiam assimetricamente da parede da sala.

Encontrar um espaço ali era quase impossível. Afastou-se para ver o resultado e teve a impressão de que algo se movera. Aproximou-se com medo de que fosse um inseto. Não viu nada. Os quadros mais antigos se alargaram e forçaram os mais recentes a se comprimirem. Nesse empurra-empurra alguns se inclinaram, Ingrid percebeu o leve rumor e recolocou-os em seus lugares. As cinco mulheres de branco que, no quadro de moldura negra, se dirigiam às suas casinhas assustaram-se com o movimento e apressaram o passo. A luz atravessou a janela e pousou sobre o quadro em que uma moça caminhava por uma rua ensolarada. Ela estancou o passo, largou a cesta que mantinha encostada ao quadril e rodopiou sobre o calçamento irregular. Ingrid pôs um CD de Chico Buarque e iniciou uns passos de dança. As pessoas do quadro em tons vermelho e negro, que observavam uma festa popular, voltaram-se e a aplaudiram com entusiasmo. Sem perceber o que se passava na parede de sua casa. Ingrid apanhou as ilustrações que trouxera do Museu Dorsay e estendeu-se no sofá abaixo do quadro em que um pintor fazia seu auto-retrato. O pintor abandonou palhetas e tintas e passou a observar, junto com ela, as reproduções. Um forte sopro de vento alçou as cortinas e avivou as figuras dos quadros. As três mulheres que conversavam, ao lado de grandes cestos cheios de conchas, despiram suas longas saias, retiraram os panos da cabeça e correram, numa nudez branca, em direção ao mar. Ao mesmo tempo, as pessoas do quadro abaixo, que caminhavam com tranqüilidade ao lado do Sena, puseram-se a correr confusas em todas as direções. Já não se obedecia aos limites impostos pelas molduras. Aprisionadas no tempo, não sabiam para onde ir ou o que fazer. Atônitas descobriam um novo mundo. Uma mulher que parecia ter saído de uma revista de modas da década de cinqüenta falou em francês para um enorme galo que se mantinha parado: Por que você não se move? — O galo mexeu a cabeça e respondeu em português: Estou nesta posição desde 1972, não consigo mexer as pernas. De repente, formou-se um grande círculo e reclamações de toda ordem foram ouvidas em diferentes línguas. Todos se entendiam: “Fui paralisada enquanto caminhava para casa”; “Estou há anos sem tomar banho”, “Não sei o que foi feito da minha família”, “Nem pudemos entrar em casa, depois da festa de Iemanjá”; “Quantos anos se passaram? Estou jovem e minha filha deve estar velha”; “Por que fomos aprisionados?”; “Eu nunca terminei meu auto-retrato. Temos que fazer alguma coisa”.Durante a confusão uma moldura caiu. Ingrid levantou-se atordoada. Estava mesmo precisando descansar, suas pernas pareciam não lhe pertencer. Apanhou o quadro e, ao colocá-lo de volta, parou perplexa: a tela não tinha qualquer vestígio de tinta.

(Conto publicado na Revista Caos portátil - Lourdinha Leite Barbosa)

Após ler o texto responda:

A protagonista (personagem principal) voltou de uma viagem à França.

1) Qual o nome de um dos museus que visitou?

2) O interesse de Ingrid pela arte parece ter surgido nessa viagem em particular? Explique sua resposta.

3) É correto afirmar que apenas a arte estrangeira agradava ela? Justifique.

4) Como você explica esta frase: “ A mala voltara quase vazia como fora; sua mente, no entanto, estava repleta.”

5) Você gostaria de fazer alguma viagem?  Para onde?

O ESPELHO DA ENTRADA

À entrada da mansão
havia um grande espelho muito antigo,
comprado pelo menos há mais de oitenta anos.

Um rapaz belíssimo, empregado de alfaiate
(e nos domingos atleta diletante)
estava ali com um pacote.

Deu-o a alguém da casa, que o levou para dentro
com o recibo. O empregado do alfaiate
ficou sozinho, à espera.

Acercou-se do espelho e mirou-se
para ajeitar a gravata. Após cinco minutos,
trouxeram-lhe o recibo e ele se foi.

Mas o antigo espelho, que vira e revira
nos seus longos anos de existência
coisas e rostos aos milhares;
mas o antigo espelho agora se alegrava
e exultava de haver mostrado sobre si
por um instante a beleza culminante.

[1930]

Após ler o texto, responda:

1) Em que lugar se passou a história?

2) Qual era a profissão do rapaz que estava no local?

3) Ele se vestia de maneira formal ou informal? Justifique.

4) Como o autor descreve a aparência do rapaz?

5) Que mudança ocorre no espelho? Porque ela acontece?

6) O que você mais gostou no texto? Por quê?

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